Miopia é o estado refrativo em que o ponto focal se forma na
frente da retina quando o olho está em repouso, em vez da própria retina, como
seria normal; ao contrário, por conseguinte, na hipermetropia, a imagem forma-se
por trás da retina.
Como na miopia ótica, as empresas comerciais com miopia têm
dificuldades em focar-se nos objetivos distantes, ou no seu futuro comercial, o
que pode levar a dores de cabeça, estrabismo, desconforto e irritação visual na
sua estratégia de negócio. Não conseguem focar-se corretamente nas
oportunidades, produzindo a imagem antes ou depois da sua “retina de benefícios”.
Esta distorção leva a chamar de “piratas” quem consome
música, livros ou filmes fora dos seus canais comerciais. Grande erro de
perceção que se combate, equivocadamente, perseguindo estas práticas e tentando
voltar aos modelos de fenícios de troca: dinheiro em troca de um objeto. No
tempo que passou, o elemento tangível foi digitalizado e já não navega por todo
o Mediterrâneo. Pior, entendem que o negócio desapareceu. O que evaporou foi essa
antiquada tangibilidade ou troca primitiva.
Permitam-me salientar que, por muito que pareça óbvio, o “pirata”
gosta de ouvir música, adora ler livros e desfruta do cinema; por conseguinte,
não é um “pirata”, é um “cliente”. O facto de que legalmente não é considerado uma
forma de comércio não é problema do consumidor, mas sim do fornecedor. Não se
trata de encorajar novas cruzadas contra essa nova modalidade desleal, mas sim estimular
a criatividade e dar-lhe aquilo de que gosta e desfruta. E, é claro, sem prejudicar
o autor, que continua a ser objeto de desejo e é contra a forma de distribuição
romântica e marinheira.
Enquanto se continuar a chamar “pirata” será processado com
leis obsoletas que pouco ou nada podem fazer. Ao contrário, ao pensar como “cliente”
que ama e quer música, livros e filmes, abrimos a porta para a inovação comercial.
Acha realmente que existe algum ingénuo que pensa que a maior firmeza legal
reativará o negócio?
Um exemplo claro: há alguns anos atrás, com o aparecimento
das câmaras e sistemas de som para substituírem os espelhos retrovisores dos carros,
assisti a uma reunião, onde um fabricante de espelhos retrovisores se desesperava
diante da concorrência, temendo a mudança fatal do mercado. Felizmente, entre
os participantes havia um profissional que não sofria de marketingopia, ou miopia
comercial. Tomou a palavra e disse calmamente: “O nosso trabalho não é fabricar
espelhos.” Perante o espanto da audiência, engenheiros experientes e fabricantes
de espelhos, reiterou: “O nosso trabalho e conhecimento é informar o condutor daquilo
que precisa saber e está fora do seu campo de visão. Até agora temo-lo feito
com espelhos, e o nosso desafio é continuar a fazê-lo.”
Adaptado de “Marketingopia
o la Miopia Comercial” do autor Francesc Beltri Gebrat.